ANTERO, A VOZ
Diz Eça de Queirós, na sua obra In Memorian dedicada ao seu amigo Antero, ao qual chamava “o santo” que a grande obra de Antero, na verdade, foi a sua conversação.
Ambos autores da terceira geração romântica portuguesa participaram activamente na fermentação e preparação da iniciativa que a determinaria: “As Conferências do Casino”.
- Que traeriam de novo estas Conferências à Sociedade Portuguesa de final do Séc. XIX?:
- Que por primeira vez, a revolução, sob a sua forma científica, iria ter em Portugal a palavra. A palavra democrática. Antes os revolucionários vistos como intriguistas e especuladores, agora era um grande espanto, ver aparecer homens que apresentavam uma revolução serena, como ciência a estudar, como uma ideologia de referências proudhianas.
“Foi um dos encantos do nosso tempo”, confidencia Eça, “ouvir conversar Antero”.
De facto, devido ao seu temperamento, segundo Costa Pimpão (PIRES, 1999), virá a sofrer pela vida adiante de uma abulia quase total para a escrita: basta ler as suas cartas a Oliveira Martins. Por isso, o Soneto escolheu a Antero para expressar-se em língua Portuguesa.
O Soneto é, pela sua própria constituição, uma unidade, pode ser abrangido pela imaginação no seu todo, mesmo sem recurso ao papel.
Oliveira Martins (Quental, 1994) no seu prefácio a uma ediçao dos Sonetos Completos, diz que nunca viu uma natureza mais complexamente bem dotada:
- “É um poeta que sente, mas é um raciocínio que pensa. Pensa o que sente; sente o que pensa”.
- “Inventa, e critica. Depois, por um movimento reflexo da inteligência, dá corpo ao que criticou, e raciocina o que imaginou”.
- “ A sua poesia é escultural e hierática, e por isso fantástica”. E exclusivamente psicológica e dantesca: não pode pintar nem descrever: acha isso inferior e quase indigno”.
- “O poeta é por isso, um místico, e o crítico um filósofo”.
O próprio Antero reconhece, numa carta a João de Deus: “Nasci peripatético e declamador”.
Suscribirse a:
Enviar comentarios (Atom)
No hay comentarios:
Publicar un comentario